Invenção apresentada à instituição oferece mais mobilidade aos deficientes visuais; Adevirp faz campanha em Ribeirão Preto
Sem cão-guia, o professor Marco Antonio usa a bengala para se locomovercom antecedência (foto: Renato Lopes / Especial)
O professor de matemática aposentado Marco Antonio Lorenzon Benzi, 41 anos, aguarda há dois anos e oito meses na fila de espera para ganhar um cão-guia do governo federal. Ele pretende ser o primeiro deficiente visual a utilizar esse serviço em Ribeirão Preto.
“Eu hoje uso bengala, mas acho que com o cão-guia me sentiria mais seguro. A maior dificuldade são os obstáculos aéreos, como árvores e orelhões, porque a bengala é mais rasteira”, diz Marco, que ficou cego desde 2006 em decorrência de uma doença degenerativa na retina.
Uma invenção apresentada à Adevirp (Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto), na semana passada, chega para pôr fim a essa longa espera e dar mais mobilidade e autonomia aos deficientes visuais: o cão-guia robô.
Os alunos Luiz Carlos Ribeiro Júnior, 40 anos, e José Eduardo de Almeida Santos, 10 anos, testaram e aprovaram a nova tecnologia.
É um dispositivo eletrônico com a mesma função do cão-guia tradicional, mas com alguns benefícios, segundo a inventora, a cientista da computação Neide Sellin.
“Hoje no País temos 100 cães-guias para 6,5 milhões de cegos. O treinamento leva de três a quatro anos, mais a adaptação. Creio que essa tecnologia a custo reduzido resolveria parte do problema de locomoção”, crê a inventora.
O custo, porém, é o principal entrave do acesso ao equipamento. Hoje, o preço de um cão-guia robô é R$ 6.950,00.
“Meu sonho é que essa ideia seja adotada pela indústria, mas por enquanto nenhuma empresa com know-how comprou a ideia. Se esse cão-guia robô for produzido em larga escala, o custo pode cair mais da metade e chegar a uns R$ 3 mil, o preço hoje de um celular”, projeta Neide.
Ideia
A inventora diz que a ideia de criar o robô surgiu quando ela ministrava aulas de robótica em 2011, em Serra (ES). “Eu tinha uma aluna cega no ensino médio e perguntei a ela quais as maiores dificuldades, daí fiquei comovida. Muitos têm cicatrizes no rosto por causa dos obstáculos aéreos, como árvores, orelhões”.
O protótipo básico saiu em 2011, em 2014 ela fundou uma start-up e começou a arrecadar recursos para produzir a primeira versão, que custou R$ 30 mil. À época, oO Sebrae cobriu 80% dos custos, e o restante foi doado.
Deficientes visuais elogiam equipamento, mas consideram o custo muito alto
Deficientes visuais atendidos pela Adevirp que testaram aprovaram o cão-guia robô. Luiz Carlos Ribeiro Júnior, 40, destacou a praticidade. “É prático porque nos avisa com antecedência os obstáculos á nossa frente”, pontuou. Trinta centímetros antes de chegar ao obstáculo, o equipamento trava e reorienta o deficiente visual para outra direção. Luiz considera a tecnologia mais acessível que o animal. “O treinamento do cão demora, tem um período de adaptação ao dono”. “É ótimo o cão-guia robô porque quando estou de bengala só percebo o obstáculo quando bate. O robô avisa antes pelo comando de voz”, acrescenta José Eduardo de Almeida Santos, 10 anos. Por outro lado, ele diz que o preço – R$ 6.950 – está longe de ser acessível. “Se eu pudesse, eu compraria”.
José Eduardo considerou ótima a experiência com o cão-guia robô, mas achou o preço alto (foto: Milena Aurea / A Cidade)
Adevirp lança campanha para adquirir equipamento para os associados
O teste do cão-guia robô fez a Adevirp lançar uma campanha com foco na arrecadação de fundos para a aquisição dessa nova tecnologia para deixá-la à disposição dos alunos Para ajudar, basta entrar no site da entidade e fazer a doação (leia mais no quadro ao lado). “A locomoção é um fator preponderante para a inclusão e o cão-guia robô é mais uma possibilidade que o deficiente visual tem para escolher, podendo optar dentro do seu perfil. O cão-guia animal tem custo alto”, resume Marlene Taveira, presidente da Adevirp. A Adevirp atende hoje cerca de 160 deficientes visuais de Ribeirão e de mais 32 cidades, com atendimento pedagógico que facilita a inclusão escolar, aulas de música, terapia ocupacional, psicologia, esporte, informática e curso de profissionalização em almoxarife. A entidade dispõe de 29 funcionários e 17 voluntários. A associação promoverá um chá beneficente nesta sexta-feira, dia 7, em sua sede, para arrecadar recursos de custeio. Haverá sorteio de prêmios e o preço do ingresso custa R$ 10, que pode ser adquirido com antecedência ou na hora do evento. A Adevirp fica na avenida Leais Paulista, 706 – Irajá. Mais informações: 3913-1900.
Patente
A inventora do cão-guia robô, a cientista da computação Neide Sellin, diz que deu entrada para registrar a patente da invenção em 2014, mas o processo ainda não foi concluído. A expectativa dela é que a resposta saia em dois anos. “Mas como já registrei fico protegida até que saia o registro”, explica.
Análise - tecnologia esbarra no preço
“Toda tecnologia para ajudar o deficiente visual a ter mais autonomia é bem-vinda. A tecnologia do cão-guia robô ainda é cara, e a maioria dos deficientes visuais não tem condições de adquiri-la. Mas é um bom recurso e que, para ser usado, primeiro o deficiente deve receber uma orientação em mobilidade. Há deficientes visuais, por exemplo, que sequer têm noção de direita e esquerda. Um dos pontos positivos do robô é que libera o deficiente dos custos com manutenção que teria com o animal, gastos com ração ou veterinário. E a espera por cão-guia animal é grande, passa de anos. Há poucas escolas de treinamento de cães-guia no Brasil, pelo que sei há uma em Brasília e outra no Sul. Ribeirão ainda não tem nenhum deficiente visual que tenha cão-guia”. Márcio Evangelista dos Reis, Responsável pela orientação e mobilidade na Adevirp.
Secretaria não responde questionamentos
Procurada ontem às 11h49, a Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência não respondeu até o fechamento desta edição, às 18h, quando Marco Antonio deverá conseguir o cão-guia. A reportagem também questionou quanto tempo leva para conseguir um cão-guia pelo governo federal hoje e quantos nomes de deficientes estão na espera. Também foi perguntado quantos deficientes visuais já ganharam cães-guias do governo federal desde o início do programa.
Luiz Carlos Ribeiro Júnior destaca a praticidade porque os obstáculos são avisados com antecedência (foto: Milena Aurea / A Cidade)
Fonte: CBN Ribeirão Preto
http://www.cbnribeirao.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,1237986,Adevirp+testa++cao-guia+robo+e+aprova+a+tecnologia.aspx
Matéria: Lucas Catanho